Já contei isto algumas vezes, mas como tenciono que leias isto mais tarde, digo uma vez mais. Desde que me lembro de mim como gente, sempre ambicionei ser mãe. Lembro que em criança, desejava ter sete filhos. Mas com o desenvolver da doença, esse sonho foi se desvanecendo, mas nunca de vez, apenas desejava ter pelo menos um filho, de preferência menino para lhe chamar Francisco. Então sempre o pedi a Deus.
Em dezembro de 2015 estava internada no CRN (Centro de Reabilitação do Norte) e, num dia menos bom, passei no corredor entre os ginásios de fisioterapia e estava uma das minhas terapeutas com um bebé ao colo. Esse bebé tinha síndrome de down e chamava-se Francisco. Do nada, ele fez-me festa no cabelo, quando olhei para ele, o olhar dele entrou bem fundo em mim à procura da minha alma. De repente em mim havia um eco que dizia: o teu Francisco vai chegar.
No meio de todo o mal que o teu pai me fazia, um dia, ou melhor, noite, havia uma vozinha interior que me pedia que colocasse fim a tanto sofrimento. E assim o fiz, deixei o teu pai adormecer e escrevi um mail à polícia a pedir ajuda, no fim hesitei, devia ou não enviar? Mas a vozinha mandava clicar em enviar e assim fiz, sem pensar duas vezes. Mandei também um SMS à tua avó e ainda bem que o fiz, pois a GNR ignorou o mail, a avó ligou à PSP que, uniu forças e conseguiram que me fossem de lá tirar.
No hospital o guarda perguntou se estava grávida e eu disse que não que eu soubesse. Fui submetida a todo o tipo de exames e assim descobri-te com 5 semanas + 5 dias. Se havia um peso de consciência em mim que pedia para voltar, desapareceu assim que soube que não estava sozinha. Soube logo que não podia, pois eu queria levar a gravidez até ao fim., e nunca te ia submeter ao sofrimento que eu e a cadela vivemos com ele.
Livrei de um lado, mas por outro ouvi constantemente falar em aborto e terminei com amizades, pois se não souberam aceitar-te, eu também não os aceitava. Se há alguém que não tem culpa, és tu, pelo contrário, eu sei que aquela vozinha era a tua! Além de tudo, também passei a gravidez a ouvir constantemente a obstetra: não vais aguentar a gravidez; é uma gravidez de risco; vais morrer no parto. Sabes a minha resposta? Não tiro, o único com poder para dar e tirar a vida é Deus. Se Ele me deu é porque posso e eu confio n'Ele!
E hoje, um milagre de Deus faz 2 aninhos. Graças a Deus és saudável e um anjinho que mesmo sendo "terrorista" também és meigo e doce. Não me arrependo de nada, nem mesmo do que sofri com o teu pai, pois resultou no amor da minha vida. Desculpa se não posso fazer mais, mas garanto que faço o melhor por ti e se for preciso, dou mais uma vez a minha vida por ti. A maior certeza que podes ter, é que a tua mãe te ama. ❤